sexta-feira, 23 de maio de 2014

Tagged Under:

O SAMBA DECIDIU POR MIM - DIZ MARIA RITA

Share
Maria Rita vem a São Paulo para lançar seu disco de sambas Coração a Batucar, hoje, às 22h, no Citibank Hall. A temporada de expectativas que a rondam desde que ela começou a se entender por cantora foi aberta logo que chegou ao fim Redescobrir, a turnê com a qual percorreu o País cantando o repertório da mãe Elis Regina. Foram tempos de amor e de dor. Do amor ela fala, da dor, não.
Coração a Batucar é a pedra do samba em estado bruto polida com seda. Sai de uma formação de grupo pensada pelo arranjador Jota de Moraes que foge às convencionais rodas de samba. Davi Moraes faz guitarras, Rannieri Oliveira toca teclado Fender Rhodes. As críticas a receberam muito bem no primeiro show realizado no Rio de Janeiro. Agora, é a vez de São Paulo.
Depois da extensa temporada com você cantando músicas de Elis, muita gente se pergunta como vai voltar Maria Rita. Essa expectativa era sua também?
Não, sabe por que? Eu fico alheia, fora dessas coisas. Isso foi martelado pela equipe que trabalha pra mim. Gravadora, assessoria de imprensa, que têm essa visão mais objetiva. Eu me propus fazer a homenagem à minha mãe, fiquei satisfeita, muito orgulhosa de mim. Aí quando vem o pessoal falar da expectativa, eu não consigo ver o que está acontecendo do lado de fora. Hoje eu lembro e digo que foi uma loucura, mas graças ao distanciamento.
Aliás, expectativas devem rondar sua vida desde os primeiros anos em que você segurou um microfone... Praticamente meu nome é Maria Expectativa Rita Expectativa Camargo Expectativa Mariano. Quem trabalha comigo me alertou muito. Aí, vem um com um número de venda, ok. Isso tem algum peso, por dois minutos, e então eu falo "Tá, deixa eu fazer o que sei fazer." Hoje sei que quando faço focada, sai com verdade e o público gosta. Mas quando faço pensando na expectativa dos outros, fica ruim, não dá certo.
Fazer um álbum de sambas foi uma decisão fácil depois de Redescobrir?Não muito, fiquei com certa dificuldade de me localizar, saber o que eu precisava fazer. Foi a primeira vez em que falei ‘e agora, vou pra onde?’ Não senti isso depois do álbum Samba Meu, nem depois do Grammy Latino. Passou o tempo, eu fiz o show no palco Sunset do Rock in Rio cantando Gonzaguinha e ali eu falei "Rapaz, que saudade que eu estou disso". Sem querer parecer muito romântica, acho que foi o samba que decidiu por mim. O encerramento da turnê de Samba Meu foi muito sofrida, chorei muito, pensava em como iria viver sem aquilo, era muita alegria. Meu drama era ficar sem o palco. Mas eu não havia saído do samba, só fazia com outro grau de intensidade
Você fechou a história de cantar Elis? Faria de novo um projeto como aquele?Eu acho que sim, eu fiz em um momento bom, certo, da forma como eu queria, mas não veio sem nenhum tipo de machucado. Fiquei espantada com o oportunismo das pessoas em torno do nome da minha mãe, coisas que aconteceram por trás das cortinas mas que não vêm ao caso. Isso foi muito frustrante para mim, muito dolorido. Por causa disso, acho que minha missão foi muito bem cumprida para ela, minha missão de filha. Eu já fiz o que eu tinha que fazer. Não sei daqui a 10 ou 20 anos o que vai acontecer, mas acho que está aí, passou. Não vou rejeitar, no novo show canto uma de Redescobrir, mas fazer desta forma com tal intensidade, eu diria hoje que não faria.
Uma cantora muda depois de uma experiência como essa, de cantar Elis por tanto tempo? Você aprendeu recursos de canto que não tinha, por exemplo?Não era fácil, e por isso eu me permito ser arrogante pra dizer que ninguém canta Elis Regina como eu. E olha que eu não gosto de pagar pau pra mim mesma, não faço isso.
Romário entrava em campo dizendo a si mesmo que era o melhor jogador do Brasil. Você também faz isso?Eu não digo que sou a melhor cantora do Brasil, digo que sou uma das melhores. Acho que podemos pensar assim para ganhar autoconfiança. Em vista do que foi aquele repertório (de Elis), eu sinto que sou sim uma cantora melhor hoje do que eu era. Eu tinha medo de explorar algumas técnicas, brincar mais com a voz, sair, e isso está aparente no disco novo, que soa mais livre.
E você é uma pessoa mais feliz depois de ter feito isso?Acho que feliz não é a palavra, a palavra é mais aliviada. Havia aquela cobrança no início, as pessoas colocando palavras na minha boca. Depois me distanciei dela quando comecei a cantar e, com Redescobrir, trouxe ela de volta para meu o coração, minha alma, é uma lição de vida. Minha mãe cantava só aquilo em que ela acreditava. É um prazer muito grande trazer minha mãe para dentro de casa de novo. E é um alívio ver as pessoas entendendo isso. Claro que tem lá um número de gente que não entende, mas é um alívio ter isso tudo limpo e esclarecido.
Algumas críticas saíram dizendo que você estava fazendo um samba mais sofisticado...A gente tem que tomar cuidado com categorias pra não cair no caricato. Eu tenho cuidado com minhas sonoridades em todos os meus discos, por que não teria com esse? Quando dizem que a capa não tem a ver com samba. que a sonoridade é sofisticada, a pessoa que diz isso me parece preconceituosa. A sonoridade do disco é ousada, eu reconheço. Tem guitarra e tal. Mas o Jota de Moraes, o Jotinha, que é um cascudo maravilhoso, disse que esse formato de banda é a sonoridade de grupo de samba dos anos 50, início de 60, quando não tinha cavaquinho nem banjo, É o contrário, é o samba mais tradicional do que a roda convencional. E eu não vou fingir ser uma pessoa que eu não sou. Quando me colocam dessa forma, vejo preconceito. É minha maneira de fazer. Eu não sou a Jovelina Pérola Negra nem a Dona Ivone Lara, e não pretendo ser.
Há algo acontecendo com o samba de especial. Gilberto Gil lança disco dos sambas de João Gilberto, O Prêmio da Música Brasileira fez homenagem ao samba. A Nívea homenageia o samba com um show em São Paulo neste final de semana. É tudo uma grande coincidência?
Será que é inconsciente? Será que há um patriotismo por causa da Copa?
Confesso que tive um minuto de preocupação também quando vi que iriam sair tantas coisas sobre o samba. O  disco estava pronto em dezembro. Pode ser uma onda que está passando e que a gente, inconscientemente, acaba pegando. Mas é aquilo, o samba também nunca foi a lugar nenhum. Tem artista novo na Lapa toda semana.

FONTE: ESTADÃO

0 comentários:

Postar um comentário

CONTATO

Envie sua crítica, sugestões ou elogios.

Nome E-mail * Mensagem *

Instagram

ACESSOS